sexta-feira, 31 de dezembro de 2010


a partir do ano que

vem eu juro que
a vida vai ser agora.

Gregório Duvivier, porque eu já peguei um texto do blog dele e convém pegar mais esse :)

Martha

Conheci Martha na bilheteria de um cinema. Não. Foi no caixa de uma livraria. Não. Foi na fila de um banheiro. Isso. Foi na fila de um banheiro. Eu entrava no banheiro e ela já lavava as mãos. Não. Foi o contrário: eu lavava as mãos e ela entrava no banheiro. Não. Quando eu entrei no banheiro, Martha estava lá, sentada. Não. Eu estava no banheiro quando. Não. Talvez fosse realmente na bilheteria de um cinema. A verdade é que eu não lembro da primeira vez que eu vi Martha. Mas lembro da segunda.

A segunda vez que eu vi Martha foi deitada sobre o meio-fio, com uma ferida no rosto. Desci do táxi (esqueci de falar, eu estava num táxi). Perguntei: Tudo bem com você? e ela: Adivinha. e eu: Não. e ela: Não o que? e eu: Não está tudo bem. e ela: Era uma pergunta retórica. Me leva pra casa? e eu: Onde você mora? e ela: Para casa que eu digo é para a sua casa. E eu só me lembro até aí. O resto foi Martha morando na minha casa, esperando a ferida cicatrizar. Quando eu ia trabalhar, ela dizia: Traz iogurte? Nunca perguntei o porquê da ferida. Nem deixei de comprar iogurte.


Copiado descaradamente de "Rua Caio Mário", o blog do Gregório Duvivier, que é foda e tal, bom à beça, sabe como é.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

In the USSR, the somewhat complicated novel is the pretentious douchebag who quotes YOU!

"Na maioria dos casos, as pessoas, inclusive os facínoras, são muito mais ingênuase e simples do que costumamos achar. Aliás, nós também."
(...)
"Talvez as faces vermelhas não impedem nem o fanatismo, nem o misticismo; a mim, porém, me parece que Aliócha era até mais realista que qualquer outra pessoa. Oh, é claro, no mosteiro ele acreditava piamente em milagres, mas a meu ver os milagres nunca desconcertam o realista.

Não são os milagres que inclinam o realista para a fé. O verdadeiro realista, caso não creia, sempre encontrará em si força e capacidade para não acreditar no milagre, e se o milagre se apresenta diante dele como um fato irrefutável, é mais fácil ele descrer de seus sentidos que admitir o fato. E se o admite, admite-o como fato natural, que apenas lhe fora até então desconhecido. No realista a fé não nasce do milagre, mas é o milagre que nasce da fé. Se o realista acredita uma vez, é justamente por seu realismo por seu realismo que ele deve forçosamente admitir o milagre."

Finalmente comecei a ler "Os Irmãos Karamázov", e deixei aí em cima dois dos melhores trechos até agora. Yet, considerando a falta habitual de algum leitor, serve para minha própria recordação posterior. Best regards to my future self!

#mimimi-tô-lendo-dostoievski-olha-pra-mim; pois é. Ainda que não seja essa a intenção.

E uma foto de Oscar Graf, também conhecido como Lênin, um soviético/russo ilustre. Sort of related.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Medo e preguiça.



O vídeo tá cortado pela metade mas não muda nada. Vê aí.

"Há dois tipos de sofredores no mundo: os que sofrem por uma falta de vida, e aqueles que sofrem de uma abundância exagerada de vida. Sempre me encontrei na segunda categoria. Quando você pára para pensar, todo o comportamento e atividade humanos não são essencialmente muito diferentes do comportamento animal. A tecnologia mais avançada faz de nós, na melhor das hipóteses, super-chimpanzés. Inclusive, o vão entre, digamos, Platão e Nietzsche e o humano normal é muito maior que o vão entre um chimpanzé e este mesmo humano normal. A dimensão espiritual verdadeira, o artista real, o santo, o filósofo... estas condições são raramente alcançadas.

Por que tão poucos? Por que a história do mundo e da evolução consiste em uma história de incontáveis zeros ao invés do progresso? Não consigo pensar que grandes novos valores se desenvolveram. Porra, os gregos há 3.000 anos eram tão avançados quando nós. Então, o que são essas barreiras que mantêm as pessoas de alcançar o seu potencial verdadeiro? A resposta pode ser achada em outra pergunta, que é: qual é a característica mais humana que há?

Medo... ou preguiça?"

Resumo pro Volkmann: tradução muito livre e filosofia mastigada do filme Waking Life, o melhor que há para os pseudo-inteligentes-e-filósofos e wannabes por aí. Me inclua nisso, com a próclise mal colocada e tudo ;)

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Têm gosto de vodka a angústia e a tristeza
A melancolia e a crise de identidade.
Às vezes até a felicidade,
e eu começo a achar que estou indo longe demais.

sábado, 20 de novembro de 2010

O pseudo-conto de Terêncio

E agora, algo completamente diferente, mas com a mesma pretensão de sempre. Divirtam-se!

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Sentado em seu assento sem estofado, a música alta do rádio do motorista normalmente irritava Terêncio profundamente, mas os vários copos de cerveja de horas antes começavam a vencê-lo no cansaço, e o balanço do ônibus em movimento lhe dava sono. Aquela aura do homem rude de sempre pouco a pouco sumia conforme passavam os semáforos.


Terêncio Oliveira era um sujeito sisudo. Tinha um bigode denso, a pele enrugada pelos 50 anos de idade e os braços fortes de quem trabalhara por muitos anos com as mãos. Sua camiseta, com uma estampa de muito mau gosto do patrocinador, e o sapato com manchas de poeira davam a entender para quem quisesse que definitivamente não era apegado a sutilezas. Achava tudo supérfluo e desnecessário; só o trabalho, que agora não era mais seu, e eventualmente mulheres, lhe interessavam.


Mulheres, é claro, também costumavam irritá-lo a esmo, e isso não era algo com que conseguia lidar facilmente. Não que obedecesse a nenhum estereótipo, mas assumia o animal que tinha dentro de si de vez em quando, e dava surras memoráveis em vagabundos na rua para conseguir vencer a frustração. Mal conseguia sustentar sua casa, que dirá comprar a sua auto-estima.


Chegou até a bater na mulher em uma ocasião, mas também era uma vagabunda que não tinha nada a perder e sumiu em um dia qualquer. Quando acabou o dia de trabalho, voltou pra casa e procurou-a pela casa, irritado que ela não tinha deixado o prato de comida pronto e, afinal de contas, onde estava a merda da cerveja na geladeira?


Gostava de maldizer o vento quando lembrava disso, e resmungava, quase rosnando, que eram todos uns filhos da puta. Dava um valor interessante à vida - seu pessimismo único era impressionantemente peculiar para aqueles que, vez ou outra, sentavam-se ao seu lado no bar e o ouviam contar e insultar aquelas velhas histórias repetidas do seu limitado repertório. Como ainda não tinha se matado era uma dúvida que tomava a todos os assíduos das mesas de sinuca do Estrela Cadente, seu boteco favorito.


Sozinho, acabou noivando com uma ordinária que conhecera por aí; a inexatidão da sua memória era pertinente, já que ele não se importava muito com ela nem com ninguém. Não havia um porquê de nostalgia. E de qualquer forma, tudo aconteceu meio que de repente – quando percebeu, já a tinha em casa, cuidando de lavar a roupa e limpar a casa na sua ausência. Ultimamente, ainda que não estivesse em casa por muito tempo, Regina – sua companheira – estava desolada com a indiferença e, de uns tempos pra cá, andava convenientemente calada.


Pois o ônibus parava em mais um ponto, novos passageiros o distraíam suficientemente para que não caísse de vez no sono. Sua cabeça tombava e o piscar de seus olhos ficava por vezes mais pausado, mas gostava de perceber como eram apertadas as calças de certas mulheres. Uma moça negra estava tão ousada que Terêncio quase esboçou um sorriso.


Sua expressão, no entanto, mantinha-se assustadora e agressiva. Não que ele expressasse isso tão obviamente, mas seus olhos estrábicos e vermelhos, unidos a seu ar cada vez mais distante e alienado inspiravam um certo perigo ao passageiro que sentara, minutos atrás, em sua frente. Todos ali sabiam que nada o impediria de entrar repentinamente em um surto colérico de ódio e bater em quem aparecesse por ali, se assim fosse a sua vontade.


De certa forma, quando não era distraído por uma passageira, por algo na rua que o lembrava da sua tempestuosa vida ou tomado por um sono fortíssimo, era nisso mesmo que ele pensava. Sabia que aproximava-se do Estrela – aquele mesmo bar – e isso era estranhamente animador.


Sabia que nada disso teria um fim muito bonito. Mas sentia as palpitações e seu coração batia forte como dois tambores contínuos, agitados pelo ritmo de sua ira, e cada vez mais rápidos. As veias do braço estavam particularmente saltadas, e sua respiração estava pesada e acelerada.


Enquanto isso, a um par de quilômetros de onde estava o ônibus, Ismael ria e abraçava uma prostituta comicamente feia.


- Vê mais uma rodada aí – disse ao homem que ficava no bar -, porque desse jeito não dá. Tive que mandar um colono qualquer embora hoje; o cara quase matou o outro na porrada no meio da obra e achei até que ia sobrar pra mim. Se eu não conseguir sossego agora, digo pra ele que foi tu, Valdecir, e aí eu quero ver a tua cara quando ele aparecer por aqui.


O grupo de homens que jogava sinuca com ele achou muita graça, e parecia que aquela noite de quinta realmente ia servir pra acalmar os ânimos por ora. Um grupo de mulheres que vinha flertando com todos trocou a música que estava tocando, e algum cantor passou a entoar, ao som de uma sanfona tocando música sertaneja, sobre sua vida de bailões e cachaça. Aparentemente essa foi uma boa escolha, já que alguns até se entusiasmaram e passaram a dançar.


Ismael Santana, até uma semana antes, era o chefe de Terêncio. Este, por se encontrar em uma fase perturbadoramente instável da sua vida, estava tendo ataques de violência constantes. Depois de espancar um outro pedreiro até provocar concussões e fraturas em vários lugares, não tinha mais como conviver normalmente com qualquer insinuação feita a sua pessoa. Bastou uma piadinha infeliz sobre a fidelidade de sua ex-mulher que ele encarnou um chimpanzé enfurecido e atacou sem piedade o piadista.


Isso não era possível, volta e meia concluía-se de novo, e os outros concordavam. “É, realmente, como pode um negócio desses”, até disse um deles. Era até engraçado como as respostas eram lacônicas ou não adicionavam nada à conversa, e parecia inclusive que Ismael conversava sozinho. E isso até que era normal, salvo em discussões apaixonadas sobre os times favoritos de cada um.


Terêncio estava perigosamente próximo. Sabia que seu antigo chefe freqüentava aquele lugar também, e tinha que lhe dizer umas verdades – ele e o canivete enorme que carregava consigo. Estava em um crescendo de sensações, e enrubescia conforme sentia tudo aquilo subindo à cabeça – seus olhos estavam mais vermelhos ainda, e, de certa forma, seu bigode até diminuíra diante do tamanho que ele tomara.


Estava tão absorto em seu transe ébrio de violência psicótica que quase perdeu o ponto. Percebeu o cheiro de fritura e lembrou que o Estrela ficava por ali. Levantou-se, então, bruscamente de seu assento e avançou para fora do ônibus, praticamente carregando os passageiros que estavam de pé junto.


Aquela figura perturbadora irrompeu pela porta do bar, e em uma rápida incursão, foi até o lugar onde estava Ismael e todos os outros. Socou o homem mais próximo, quebrou um copo de vidro na cabeça de outro e, conforme as pessoas tentavam devolver seus golpes, via-se cada vez mais pessoas derrubadas e cadeiras quebradas.


Alguns de fato até acertavam-no, e mantiveram-se brigando por um bom tempo, mas aquele ‘colono’ não se deixava abater. Passou a procurar pelo seu ex-chefe, que furtivamente pegara uma garrafa já aberta e vinha por trás para acertar-lhe na cabeça. Em um movimento muito mal calculado, errou o golpe e deixou-se perceber – Terêncio não estava disposto a morrer com uma garrafada na cabeça e sucessivos cortes com o vidro quebrado, e o revide foi iminente.


Rapidamente sacou seu canivete do bolso, abriu-o e passou a apunhalar e esfaquear, atacando de tal forma Ismael que este passou a ficar desfigurado. Aquela cena dantesca era o ápice, o clímax daquela cacofonia de gritos, socos, facadas e grunhidos irritados, e vencia com facilidade qualquer sonho de roteirista de filme B de terror.


Ismael já não era mais Ismael e Terêncio já não era mais Terêncio. Um estava completamente irreconhecível, e o outro, possuído pelos seus demônios e pela aparência de um selvagem, podia ser qualquer coisa menos aquele cara introspectivo de ascendência alemã de outrora.


De um jeito ou de outro, era hora de sair dali, ainda que não houvesse mais uma alma viva presente. Fora dois ou três jogados por ali, um caído de bêbado e os outros caídos da surra, todos os outros foram sensatos o suficiente para sair correndo em desespero.


O ‘alemão’, no entanto, não foi embora; ficou ali, e aproveitou as garrafas dando sopa, esbaldando-se em um open bar de cachaça barata. Uma hora depois, atordoado, saiu correndo do bar achando que ouvira a polícia, ainda que soubesse que nem a polícia nem ninguém se importavam com aquela espelunca ou com seus freqüentadores.


E não era, realmente, nenhuma sirene, era só um alarme de carro. A rua estava mal iluminada, e o motorista de ônibus, de novo distraído pelo seu rádio, fazia mais uma volta por ali. Não percebeu o maluco embriagado no meio da rua e, em questão de segundos, já não havia mais ninguém para contar a história.


Os passageiros de ônibus sentiram o solavanco e pensaram, emocionados por esta possibilidade, que um cachorro – coitado! – acabara de morrer, impiedosamente, atropelado. Alguns tentaram olhar para trás, mas só viram um bar muito bagunçado e algumas pessoas jogadas lá dentro, sob uma luz fraca e ao som de uma música muito brega.


Sem nenhum moralismo – ainda que fosse mesmo um cachorro, as pessoas voltaram a se distrair com a passagem e com seus pensamentos – “graças a deus amanhã é sexta e eu não tenho que pegar esse ônibus imundo de novo por mais dois dias”.


A vida continuou, e tirando a nota de obituário de Ismael, o acontecimento passou sem que nenhum jornal dissesse alguma coisa. Tudo estava normal, menos para o sujeito que teve que limpar a rua no dia seguinte, que percebeu que ia ter alguma história para contar no Estrela Cadente naquela noite.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Ser ou não ser Federal, eis a questão

Hoje alguém me disse que olha meu blog muito frequentemente para checar se há alguma coisa nova; acho que foi uma motivação interessante para escrever de novo. De qualquer forma, vamos ao texto.
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Considerando a quantidade de dinheiro (hipotético para os céticos, futuro benefício para os crédulos) envolvida e os muitos empregos e vagas em jogo na universidade, uma das questões que e maior relevância em Blumenau atualmente é a federalização da FURB


O assunto é palpitante, inútil é meu blog.

Na posição de calouro e ‘sabe-de-nada’, tenho pouco a dar de opinião baseada em experiência própria, algo que você deve ter deduzido desde o primeiro post do blog. No entanto, é sempre válido começar uma discussão ou fazer alguém pensar – nem que este seja eu mesmo.

Pois bem, primeiro com a posição de quem é pró-federalização, a exemplo de um professor que eu tenho. Parte-se do princípio que, em uma situação ideal de federalização, o orçamento disponibilizado para nossa universidade passariaa ser em torno de 300 milhões de reais. Isso, segundo fontes, é praticamente o triplo do orçamento atual, embora eu não tenha certeza se já está incluída a mensalidade paga pelos alunos ou não.

E em que implica a consolidação desse processo? Os alunos ganhariam muito, certamente. Os professores, a exemplo da UFSC, seriam em sua maioria graduados com um Doutorado, a instituição (fisicamente falando) seria herdada sem nenhum problema, o diploma passaria a ser de uma Federal (e é bem sabido o quão valorizado é isso, mito ou não) e estaríamos isentos de pagar a mensalidade.

Sem contar com o valor econômico e, digamos, ‘científico’ que viria de brinde. Estamos falando de centenas de milhões de reais injetados na economia local e de vários estudantes vindos de vários estados - matriculados aqui, formando-se aqui, trabalhando aqui e gastando dinheiro em coisas blumenauenses, quiçá do vale e congêneres.

Não obstante, mudaríamos o foco atual, com mais ênfase na pesquisa e extensão. Supõe-se que nem todo o dinheiro seria aplicado com o salário dos servidores que trabalhariam na FURB, e, portanto, haverá mais dinheiro para financiar os outros projetos relacionados à universidade.

Por outro lado, há a opinião de quem é contra isso tudo, com suas razões. Antes de levar em conta as conseqüências da hipótese, questiona-se a capacidade desse projeto ser levado adiante – considerando a inexpressividade política de Santa Catarina, é possível que o dinheiro nem chegue até nós e que tudo isso nem seja aprovado lá em cima.

Agora, na parte prática da questão, aqueles professores desqualificados para ensinar em uma Federal (sejam estes didáticos e bons, ou não) seriam os primeiros a sentir o lado negativo. Na iminência de um concurso com pré-requisitos altos demais ou com um nível de dificuldade elevado, uma grande quantidade de discentes iria embora. Confesso que não sei da veracidade dessa informação, mas a minha fonte a garante.

Além disso, ainda que exista o IBES, a FAE e a ASSELVI (ou UNIASSELVI, seja lá), o ensino superior tornar-se-ia em parte inacessível por aqui para aqueles que vêm do ensino público, uma vez que estes não têm a capacidade financeira ou a capacidade acadêmica. De cada 100 alunos que fizeram a prova do vestibular da UFSC de 2007 (e que eu estou tomando como padrão em uma universidade federal, partindo da premissa de que não há razão para que esse número mude drasticamente de ano pra ano), aproximadamente 23 vêm de escolas públicas - que dirá quantos efetivamente são aprovados. Quanto aos que não poderiam pagar, podemos supor que se eles tivessem dinheiro para investir em educação, eles não teriam vindo de escolas municipais ou estaduais.

Minha cara quando me dei conta de que não consigo decidir minha opinião.

E isso é um contra-senso, se o objetivo é elevar o nível do pessoal por aqui. Devemos trazer uma montanha de alunos qualificados pra cá e deixar os incapazes indispondo da FURB?

De resto, sobram perguntas: a administração pública dará conta daqueles milhões todos? Dando vida ao economista dentro de mim, teremos uma alocação de recursos ideal e certa? Ou ainda, haverá recursos para alocar? Os novos professores aumentariam tanto assim o nível? Por fim, você que está lendo, hipotético freqüentador do meu blog: no caso de ser um estudante, você seria capaz de entrar na FURB enquanto Universidade Federal de Blumenau? No caso de ser um calouro ou um veterano, você teria sido capaz de entrar e ser digno de um canudo desses?

É difícil responder. Estou pendente a crer que tornar nossa digníssima instituição pública é o ideal (“pensemos no futuro da cidade!”), mas como pesar o que é mais válido? Parece que ver como Blumenau se beneficiará (olha o clichê aí) é uma questão de ponto de vista. E pior: talvez a cidade saia ganhando e perdendo nas duas possibilidades – basta decidir quem deve ficar na vantagem e quem não deve.

Olhando pros posts que eu tenho escrito, sobre como todos nós somos iguais (ou sem individualismo, dá no mesmo), como somos imperfeitos e sobre como não há verdade, não tem como eu dar uma resposta. Mesmo. Penso até que votaria em branco, no caso de ter que votar em chapas para reitor extremistas nesse sentido.

Afinal, parece que é uma sacanagem (uma puta falta de sacanagem, alguém diria) que alguns percam um emprego de uma forma relativamente injusta e que outros percam a oportunidade de estudar na FURB agora, não parece? Mas também não parece ignorância não optar pelo futuro desenvolvimento daqui? De qualquer forma, como não há verdade absoluta e nunca vai haver, tanto eu como todos vocês, estamos todos errados em nossas próprias proporções. Que seja o melhor para Blumenau e, aos vencedores, as batatas! ;)

mp3: The Radio Dept. – Heaven’s on Fire

Resumo pro Volkmann: Federalizar a FURB ou não? Ambas as frentes tem suas opiniões com sustentação lógica e com um sentido de ser, mas (como sempre) só posso concluir que as duas não estão nem certas nem erradas. Depende sempre de um ponto de vista e de quem você acha que deve sair ganhando.

PS:
Minha fonte da estatística: http://www.vestibular2007.ufsc.br/relatorio/vestgrt03g.html

De resto, prefiro não dizer quem opinou pra eu escrever esse texto. Se alguém leu até o final e tem uma opinião (acho improvável, mas vale a minha intenção), não se acanhe! Deixe um comentário.

domingo, 2 de maio de 2010

Imperfeito porque humano.

Assisti “Homem de Ferro 2” alguns dias atrás e um dos diálogos do filme foi o que serviu para contrabalancear o exagero inacreditável do filme. Eis que, lá pelas tantas, o vilão do filme, “Ivan Vanko”, diz: “Se você faz Deus sangrar, as pessoas param de acreditar nele”.

Bom, eu espero que isso não desvie sua atenção do texto, mas que fique claro que o assunto aqui não será o Homem de Ferro ou Deus. Eles já têm atenção demais para coisas que não existem. É sobre eu, você e essencialmente todo o mundo.

Nós somos imperfeitos. Estaremos sempre diante da nossa própria tragédia grega, cada um com suas proporções, e sempre em uma catarse que nunca acaba. Embora saibamos que há crianças africanas que morrem de fome (e dos clichês inevitáveis), nada nunca nos satisfará a ponto de nos sentirmos completos, seja culpa do seu pensamento livre ou da falta de algum neurotransmissor no cérebro.


E da mesma forma, Deus sangra. Em outras palavras, Deus é humano, e isso porque Deus (e o Homem de Ferro também) representa o nosso ideal de existência, e provavelmente não é muito difícil de chegar nessa conclusão. Afinal, se nos livrássemos de todos os atrasos que nossa humanidade nos proporciona, poderíamos chegar a ser o que quer que fosse da nossa vontade.



Até o homem vitruviano teria crises existenciais.

Imagine que espetacular. Não seria difícil ficar rico, posto que não teríamos razão para gastar em supérfluos. Seriamos nossa própria definição de inteligência, virtuosidade e beleza, uma vez que a nossa disciplina impecável serviria de escada para qualquer patamar. Não haveria depressão, medo, admiração exacerbada ou deficiência (física e psicológica) para deter quem quer que fosse.


O assunto permite afirmar ainda, com meu radicalismo de sempre, que aqui está uma das razões pela qual gostamos tanto de ler histórias e assistir filmes. Além da distração, é emocionante acreditar que um dia seremos pessoas reconhecidas e célebres – seja pelo mérito, pelo valor de nossa criação, pelo amor platônico que se concretiza ou pelo dinheiro que temos.


Mas, voltando ao meu ponto inicial, nunca seremos completos. Não somos melhores que ninguém (isso não deveria nem ser pensável), nunca teremos tudo, e é uma bobagem perseguir isso. Acho até engraçado existirem tantos livros de auto-ajuda (ou a auto-ajuda per se), sempre promovendo o encontro da Felicidade (com efe maiúsculo), a “convivência perfeita” dos casais, o encontro da sua “cara metade” ou ficar milionário – sugerindo, ainda por cima, que ficar rico resolve alguma coisa.


Let’s face it – não resolve. As pessoas certamente ficariam muito mais distraídas com o prazer puro que seria ter um rancho Neverland de entusiasmos e supérfluos. Ainda assim, o tédio eventualmente levaria o novo Michael Jackson em potencial a voltar à estaca zero, procurando algo que o fizesse feliz até o próximo momento de aborrecimento. E, veja só, estamos gastando nossa vida inteira trabalhando.


Então, não sei ao certo como concluir. Não sugiro uma vida antissistema ou algum tipo de anarquia. Sugiro na verdade o bom e velho conformismo, desde que você se lembre que nada nunca vai ser lindo e divino como nossos sonhos e devaneios sugerem.


E ao modo da Academia de Oratória, outra citação, agora no fim. Essa é de (previsível) Tyler Durden: "Você não é o seu emprego. Você não é quanto dinheiro você tem no banco. Você não é o carro que você dirige. Você não é o conteúdo da sua carteira. Você não é as calças cáqui que veste. Você é toda merda ambulante do mundo."


mp3: Yann Tiersen – Summer ’78 (Goodbye, Lenin! OST)


Resumo pro Volkmann: Assista “Clube da Luta” e saiba que ninguém nunca será único, feliz de verdade ou completo – essas coisas são inexistentes e a única noção de ‘felicidade’ que temos está intrinsecamente ligada à nossa distração do mundo de verdade, nem que tenhamos nosso rabo atochado de dinheiro.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Crises de Identidade, persistência da memória e Alexandre Nardoni

Era uma curiosidade que eu já tinha ouvido bastante tempo atrás, mas que eu ouvi de novo recentemente: todas as células dos nossos corpos já foram regeneradas alguma vez nos últimos sete anos. Fui conferir essa informação e havia um dado que aumentava esse período, posto que algumas células duram mais tempo – nos ossos, por exemplo, algumas aparentemente resistem por uns 10 anos.

Isso significa que você poderia se considerar, pelo menos a cada década, uma pessoa completamente diferente do que era dez anos atrás. Então, ainda que seja uma noção meio radical e que talvez, em poucas palavras, “não é exatamente assim que funciona”, essa idéia me rende uma pergunta: o que define nossa identidade ao longo do tempo?


Reformulemos a pergunta. Como alguma coisa pode manter-se a mesma se ela, fisicamente falando, transforma-se em outra totalmente nova? Bom, em primeiro lugar, tenhamos em mente que essa idéia é muito velha, tanto que na Grécia antiga – para variar – alguém já tinha pensado nisso.


Chama-se o “Navio de Teseu”:
Conforme relato de Plutarco, o navio com que Teseu e os jovens de Atenas retornaram (de Creta) tinha trinta remos, e foi preservado pelos atenienses até o tempo de Demétrio de Falero, porque eles removiam as partes velhas que apodreciam e colocavam partes novas, de forma que o navio se tornou motivo de discussão entre os filósofos a respeito de coisas que crescem, alguns dizendo que o navio era o mesmo, e outros dizendo que não era.

A idéia, embora um pouco repetitiva a essa altura do texto, é perguntar-se como o navio podia ser o mesmo se este já fora praticamente reconstruído várias vezes.


A resposta que me vem a cabeça é que o navio passa a ser outro, nessas condições. Mas e nós? Deixamos de ser quem nós somos, uma vez que a pessoa que ganhou uma certidão de nascimento há muito tempo já não é a mesma? Como nós lembramos como andar de bicicleta ainda que passemos muito mais do que uma década sem pegar uma para andar?

E tem mais um problema, que se revela quando eu percebo que é muito mais difícil definir as coisas. Não podemos definir alguma coisa pelo funcionamento, propósito ou aparência/composição física. Afinal, uma chave que não abrisse nenhuma porta existente não seria uma chave.

Mas a verdade é que não sei como responder nada disso. Não escrevi o texto para apresentar uma resposta, porque certamente ela depende de um conhecimento mais complexo do que eu poderia dar. Algo relacionado com o funcionamento exato de nossa memória – ou a persistência dela – e como é o mecanismo que determina a nossa consciência.


Minha intenção com esse papo todo era, a princípio, deixar a reflexão pra quem quiser ler e depois conversar sobre isso. Mas aí eu percebi além disso, ao pensar sobre o assunto e assistir os noticiários, que existe uma aplicação moral bizarra desse paradoxo.


Quanto à permanência de identidade, Alexandre Nardoni, por exemplo, poderia ser solto em uma década - embora talvez ele seja mesmo, who knows - se eu estiver certo nesse aspecto. Afinal, passado um decênio da morte de Isabella não vai mais ter sido ele que a matou.


"Mas eu não matei ela, foi um assaltante que jogou ela da janela. Eu juro!"


E já que mudamos de assunto, PELO AMOR DE DEUS PAREM DE FALAR NESSA PORRA. Eles estão sendo julgados, tudo bem, mas eu tenho certeza que essa notícia não tem tanta relevância. Ah sim, tem outra: como já disseram antes, as pessoas que ficam na porta do tribunal pra vaiar eles são uns idiotas. Aproveitem seu tempo melhor, vão dar a bunda, se joguem pela janela, sei lá.


Bom, é isso. Um abraço ao Marco que não vai ler esse texto e que acha muito divertido quando eu começo essas conversas.


mp3: Pixies - Where is My Mind

Resumo pro Volkmann: você é uma pessoa diferente e igual a cada 7 anos e eu odeio o “caso da menina Isabella”.