terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Minds at Large and The Doors of perception

E aí que eu achei um texto (aparentemente na íntegra) de Aldous Huxley: o famoso livro "The Doors of Perception", que fala sobre da experiência do escritor com formas de alterar a percepção - não só através de mescalina e afins, note bem. Resolvi traduzir (just for the fun of it) e postar aqui um trecho que capta bem a ideia da coisa toda, ainda que em um resumo grosseiro e em uma tradução tosca. Aí vai:

"Refletindo sobre a minha experiência, encontro-me concordando com o ilustre filósofo de Cambridge, Doutor. C. D. Broad, '(...)[que sugere que] a função do cérebro, do sistema nervoso e dos órgãos sensoriais é principalmente eliminativa, e não produtiva.

Cada pessoa é constantemente capaz de lembrar tudo o que já aconteceu a ela e de perceber tudo o que está acontecendo em todos os lugares do universo. A função do cérebro e do sistema nervoso é a de nos protejer da sobrecarga e da confusão provocadas por essa massa gigantesca de conhecimento largamente irrelevante e inútil, através do afastamento e do ocultamento de estímulos que nós, em outras circunstâncias, perceberíamos; isso nos deixa uma pequena faixa de percepção que é suscetível de ser inútil.
'

De acordo com essa teoria, cada um de nós é uma Mind at Large. (N. do T.: eu traduziria livremente Mind at Large como "Mente Livre", "Macromente" ou talvez ainda como "Consciência Universal") Mas até agora, como somo animais, nosso negócio aqui é, acima de qualquer coisa, sobreviver. Para que a sobrevivência biológica fosse possível, a Mind at Large teve que ser canalizada através de um 'funil', que é o cérebro e o sistema nervoso. O que sai do outro lado desse funil é uma pequena gota, um tipo de consciência que será útil para nos manter vivos neste planeta em particular.

Para formular e expressar o conteúdo dessa consciência reduzida, o homem têm inventado e elaborado um tipo de sistema de símbolos e filosofias implícitas a que nós chamamos de linguagem. Cada indivíduo é, ao mesmo tempo, beneficiário e vítima dessa tradição linguística em que nasceu; beneficiário, ao passo que a linguagem lhe dá acesso aos registros acumulados advindos da experiência alheia, e vítima, na medida que a linguagem lhe confirma a crença de que o percepção reduzida do mundo é a única percepção que há, molestando sem parar o seu senso de realidade, e ele substitui as coisas reais por palavras.

Aquilo que é chamado, no âmbito da religião, em 'este mundo' é o universo de perpeção limitada, expressada e petrificada pela linguagem. Os vários 'outros mundos', com os quais seres humanos iregularmente fazem contato são é tudo aquilo que não percebemos, é a totalidade da percepção e da consciência que pertence à Mind at Large.



A maioria das pessoas, na maior parte do tempo, conhece somente aquilo que passa pelo funil e que é consagrado como algo genuinamente real pela linguagem local. Outras pessoas, no entanto, parecem ter nascido com algum tipo de 'desvio', que contorna o funil. Outros desvios temporarios podem ser adquiridos espontaneamente, como o resultado de 'exercícios espirituais' direcionados para isso, através da hipnose, ou com fármacos e drogas.

Por esses desvios - permantentes ou temporários -não passa, de fato, a percepção de 'tudo aquilo que acontece em todos os lugares do universo' (porque o desvio não destrói o funil e ainda ignora muito daquilo que é a totalidade da Mind at Large), mas passa alguma coisa a mais que isso. Por esses desvios passa, acima de tudo, muito mais que a matéria útil, cuidadosamente selecionada, e definida por nossas cabeças estreitas e limitadas como um retrato completo (ou suficiente) da realidade."

E vale mencionar:

"If the doors of perception were cleansed everything would appear to man as it is, infinite." ("Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo apareceria para o homem tal como é: infinito")

Por curiosidade, e com o apoio da Wikipedia, esse é o excerto do poema que serviu de inspiração para o título do livro aí em cima; aliás, o poema se chama "O casamento do céu e do inferno".

Assim, e porque parece igualmente conveniente (além de que eu acho que, comicamente, ninguém cita o livro do sr. Huxley lá em cima sem mencionar também essa banda), um clipe de "The End" do "The Doors", banda que, por sinal, também tirou o nome daí. Não sei ao certo se do livro ou do poema, mas pouco importa. Rock on, Mr. Morrison.



"This is the end, beautiful friend. This is the end, my only friend, the end. Of our elaborate plans, the end; of everything that stands, the end. No safety or surprise, the end. I'll never look into your eyes...again. Can you picture what will be? So limitless and free"
Aliás, o filme "The Doors" é muito bom e "Apocalypse Now" é mais ainda (essa música é usada várias vezes na trilha sonora; suspeito até que seja o tema principal do filme). E esse o fim do post. No safety or surprise, the end.