sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

"Ghost of Corporate Future", por Regina Spektor


A man walks out of his apartment,
It is raining, he's got no umbrella
He starts running beneath the awnings,
Trying to save his suit,
Trying to save his suit.
Trying to dry, and to dry, and to dry but no good

When he gets to the crowded subway platform,
He takes off both of his shoes
He steps right into somebody's fat loogie
And everyone who sees him says, "Ew."
Everyone who sees him says, "Ew."

But he doesn't care,
'Cause last night he got a visit from the
Ghost of Corporate Future
The ghost said, "Take off both your shoes
Whatever chances you get
Especially when they're wet."

He also said,
"Imagine you go away
On a business trip one day
And when you come back home,
Your children have grown
And you never made your wife moan,
Your children have grown
And you never made your wife moan."

"And people make you nervous
You'd think the world is ending,
And everybody's features have somehow started blending
And everything is plastic,
And everyone's sarcastic,
And all your food is frozen,
It needs to be defrosted."

"You'd think the world was ending,
You'd think the world was ending,
You'd think the world was ending right now.
You'd think the world was ending,
You'd think the world was ending,
You'd think the world was ending right now."

"Well maybe you should just drink a lot less coffee,
And never ever watch the ten o'clock news,
Maybe you should kiss someone nice,
Or lick a rock,
Or both."

"Maybe you should cut your own hair
'Cause that can be so funny
It doesn't cost any money
And it always grows back
Hair grows even after you're dead"

"And people are just people,
They shouldn't make you nervous.
The world is everlasting,
It's coming and it's going.
If you don't toss your plastic,
The streets won't be so plastic.
And if you kiss somebody,
Then both of you'll get practice."

"The world is everlasting
Put dirtballs in your pocket,
Put dirtballs in your pocket,
And take off both your shoes.
'Cause people are just people,
People are just people,
People are just people like you.
People are just people,
People are just people,
People are just people like you."

The world is everlasting
It's coming and it's going
The world is everlasting
It's coming and it's going

It's coming and it's going


quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Una invitación para entrar a tu vida (ou ‘o eclipse de olhos verdes’)

Todas as quintas-feiras, depois do almoço e antes de voltar ao escritório, nós vamos ao mesmo café onde o brigadeiro é servido de graça com o espresso, e onde o garçonzinho de gravata borboleta se confunde jocosamente com pronomes de tratamento. Não, é sério: uma parte da nossa diversão é receber o ‘bom dia, senhores’ dele quando entramos, para depois irmos embora com o seu ‘valeu bróder’ meio gaiato.
Enfim, eis que Lotte entra no café de novo. Observando-a se aproximar da mesa, ouço, como nas outras semanas, o desenrolar de todas as palavras que eu direi, assim como todas as respostas que ela me dará. A cena desenreda-se de imediato na minha cabeça — de novo.
Oi, eu vou dizer.

Olá, ela vai dizer com tom doce.
E aí passaremos a conversar, e será bem agradável. Vou elogiar o seu brinco e a blusa lilás. Aí ela dirá algo pequeno, inócuo, alguma sacadinha de me fazer sorrir de lado, algo sobre mim, algo que eu ainda não havia contado a ela. Alguma coisa impossível.

Pois então. Fico aqui sentado, mexendo com a colherinha meu café amargo e observando-a debruçada no balcão e convenientemente inclinada. Café com leite e bombom de morango.
“Café com leite e bombom de morango”, ela diz, como quem quase ordena e comanda a senhorinha no caixa. Dá um passo ao lado para que a fila ande, e folheia uma das revistas sobre a mesinha onde fica o açúcar, os talheres de plástico e os guardanapos.
O mundo, quase como um relógio. Aperta-se o botão, troca-se mais um filtro da máquina de café, e açúcar ou adoçante—

“Açúcar ou adoçante?”
“Nenhum dos dois, obrigado.”
“Ok, querida.”
As coisas acontecem, tudo na sua ordem, com os botões apertados, resultados antecipados e os padrões perceptíveis, de tal modo que, se você não jogar uma pedra nas engrenagens ou forçar a barra, tudo vai funcionar perfeitamente. Não haverá nada que o impeça de dissimular que tem algo profunda e fundamentalmente errado no meio de tudo isso.

Mas é besteira.
É besteira porque Lotte voltou a se sentar. Lotte, com seu café com leite e o bombom comido em mordidas ínfimas.
Charlotte é seu nome inteiro, na verdade. Não conheço ninguém como Charlotte, tampouco outra pessoa com o mesmo nome, para falar a verdade. Deixei-me enlevar tantas vezes pela pequena mancha redonda preta que orbita a íris castanho-esverdeada ao redor de sua pupila, que já não creio mais em outro destino que não o fundo de seus olhos. E também o sorriso desenhado, contraponto às mechas de cabelo castanhas e a pele pálida. Ah, Charlotte, que nem sabe disto, mas como senti sua falta.
Hoje o assunto é palpitante. Ela mexe a bolsa, descuidada com a conversa, perguntando o que acho sobre ‘amor’. Assim mesmo, sei lá, ‘o que você acha sobre amor’. Logo em uma quinta-feira tão atribulada. Minha cabeça continua no arquivo do escritório e na cara amarrada dos clientes céticos, e eu tendo que pensar em algo inteligente para dizer.
Eu não digo nada muito de imediato, então Lotte volta sua atenção para a silenciosa superfície da mesa, já que cansou de procurar algo que evidentemente não está na bolsa. Para dar uma resposta, vejo que meu lado direito cartesiano um tanto boring toma a frente, porque desenho no guardanapo um gráfico com ‘sentimento’ e ‘’tempo’ nos eixos, traçando curvas a que chamo de ‘paixão’ e ‘amor’. Uma coisa sucede a outra naturalmente, não?
“Não, não; ‘ tá entendendo tudo errado. Amor não segue muito uma lógica. E mais importante, amor não é um sentimento.” (E ela não liga se a conversa não nos levará a lugar nenhum, se é clichê ou pretensiosa). “Amor são ações”, ela afirma com tom muito entendido e didático. “E não dá pra amar assim sem fazer nada.”
Ela morde o pedacinho que resta do bombom, e termina o café. Amor são ações, veja só.
“Vai mais um docinho aí, senhores?”, pergunta o garçom, que surge como um Mestre dos Magos de gravata borboleta e munido de bandeja de metal. Lógico —sempre tem mais espaço para um docinho, e é o que dou a entender com minha cara de formiga sorridente.
Já é quase hora de ir embora, ao menos para evitar que o papel colado na parede da sala onde trabalho, indicando os horários de entrada e saída dos funcionários, explicite ao chefinho no final do mês que estendi o almoço além da conta. Confiro o relógio do celular.
Vamo aí, senhores?”, Lotte pergunta.
Sim, vamos. Ela sorri, e essa fração de segundos se arrasta um pouco mais do que todas as outras, como se o tempo ficasse meio devagar de supetão. Eu vou sorrir de volta, ela vai sorrir mais um pouco, a gente vai se levantar pra pagar e aceitar a balinha de canela que nos oferecerão no caixa. Charlotte se despedirá sem dizer nada, só com os seus olhos e o sublime eclipse interno da íris esquerda, e vou dizer ‘até semana que vem’. Ela vai dizer ‘até’, daremos uma pausa em silêncio, e aí iremos embora em direções opostas, cada um com uma música na cabeça.
“Amor não é um sentimento”, e não é nem a conclusão dela que surpreende tanto, e sim como ou quando chegamos nesse ponto. Quinta-feira por quinta-feira, um cafezinho com bombom por vez… quiçá fui de fato chegando mais perto da lua que tangencia sua pupila — e parece que entrei logo em órbita do espaço de mim mesmo. Aonde isso vai dar eu não sei, mas se for preciso eu vou lá, ansioso para ver o que me espera.
O que importa é que o quadro que eles têm lá no cafezinho, solitário na parede amarelo-torrada, está com mais razão que imaginei. “A veces um café es la invitación para que alguien entre a tu vida”, assim mesmo em espanhol. Quem diria.